quinta-feira, 18 de março de 2010

Anestesia geral.

Depois de um fim de semana prolongado de felicidade constante e evidente, voltei para minha vida riostrense que está tomando novos rumos e que em breve se tornará uma rotina normal – remunerada se Deus quiser!
Apesar de todos os acontecimentos, nada tinha me incomodado a escrever até agora. Estava lendo A sombra do vento e ouvindo Beatles até que me deu vontade de ouvir outra coisa e fui parar em uma música que marcou uma fase digamos negríssima da minha vida. Parei e me dei conta de que infelizmente as feridas ainda existem e doem quando se toca em um elemento tão forte e presente quanto a música, e que não há maneira de comparar a dor de antes com o resquício mínimo que vem a tona hoje quando se toca no passado.
Essa dor insustentável teve em mim um efeito anestésico, do tipo anestesia de dentista que te deixa com a boca mole por horas e horas, onde todos os outros âmbitos da minha vida se passaram “em branco” enquanto eu estava em estado vegetativo. Era como se eu estivesse morta, por mais que tentasse mostrar o contrário, por mais que tentasse me passar por forte e imune a tudo. Eu lembro que estava passando a minissérie Capitu na Globo quando as coisas começaram a desandar e a dor começou. Meu primeiro contato com ela teve um impacto grande e começou o efeito anestésico. A única coisa que me lembro daquela semana era de ficar deitada tentando desviar minha atenção da dor para a televisão – sem sucesso – sem vontade de comer, com vontade de dormir, dormir pra sempre. Não estou brincando quando digo que não lembro de nada além disso. Não lembro da minha rotina, de nenhum diálogo, NADA. Isso é preocupante quando se trata de uma pessoa que SEMPRE se lembra de tudo em detalhes.
Todos aqueles dias se passaram como um episódio aleatório sobre o qual não consigo lembrar de nada a não ser a dor que eu senti. É triste demais voltar a isso e ver como tudo se passou, em quanta coisa se perdeu em prol de outra – que por sinal também foi perdida.

Quem ilustra perfeitamente minha breve depressão é Sthepenie Meyer em Lua Nova, quando Edward vai embora e Bella entra na mesma inércia que tive o desprazer de conhecer. Não achei nenhuma fala dela descrevendo a sensação de passar por isso mas esse trecho de um diálogo entre ela e seu pai retrata como poderiam ter me visto naquele momento:


"Você não fez nada. Esse é o problema. Você nunca faz nada".
"Você quer que eu me envolva em problemas?" Eu me perguntei,
minhas sobrancelhas ficando juntas de mistificação. Eu fiz um esforço
pra prestar atenção. Não era fácil. Eu estava tão acostumada a
desligar as coisas, meus ouvidos estavam desacostumados.
"Problema seria melhor do que isso... essa amorfinação o tempo
inteiro!"
Isso me deixou com um pouco de remorso. Eu fui tão cuidadosa pra
evitar de todas as formas parecer sombria, morfinação incluído.
"Eu não estou amorfinada".
"Palavra errada", ele concedeu mal humorado. "Amorfinação seria
melhor - isso seria fazer alguma coisa. Você só está... sem vida,
Bella".


Enfim, não sei porque trouxe isso pra cá. Se por acaso algum psicólogo ler isso e encontrar relação entre os fatos e a metamorfose da Mônica de antes para a Mônica de agora, favor diagnosticar.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Porque tudo o que machuca, deixa marcas, positivas ou não.
    E é lógico que muda a nossa forma de encarar os fatos; por vezes deixa traumas, medos, limitações... mas nada que a vida não se encarregue.
    A gente não esquece as coisas, mas quando outras novas surgem, as antigas saem do centro das atenções! And the show keeps going on.

    Nem sou psicóloga. Hahaha.

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